O Nordeste quase sempre fica de fora da rota de shows de artistas das regiões Sul e Sudeste. Políticos e empresários dizem que os nordestinos não têm poder aquisitivo para pagar pelos eventos. Dizem que não sabemos votar e que não deveríamos fazer parte do país. Não foi isso que Liniker demonstrou pensar na última sexta-feira, 10 de novembro. O show que a artista paulista fez no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura não deixou a desejar em nada e mostrou como ela queria estar ali.
Após um atraso de mais de uma hora para a abertura dos portões, a cantora cearense Mumutante deu início à noite cantando músicas de sua carreira solo. Visivelmente emocionada, falou sobre a importância de duas mulheres trans, ela e Liniker, estarem ocupando aquele espaço. O show da cearense, apesar de curto, foi muito bem construído e trouxe arranjos impecáveis para suas canções. Durante o espetáculo, ela ainda contou que estava muito feliz por poder ver várias pessoas como ela na plateia, aproveitando o momento. Os ingressos para o evento foram vendidos por preços mais acessíveis para pessoas transexuais, em uma tentativa de tornar o ambiente mais diverso e democrático.
Depois de Mumutante, veio a atração principal. Liniker subiu ao palco com quase quarenta minutos de atraso. O descaso com os horários já vinha deixando o público preocupado com a possibilidade de termos mais uma artista tratando o Nordeste com negligência. Mas quando a cantora começou a apresentação, todo esse receio foi embora. Vimos Liniker e sua banda dando tudo de si, animados, dançando e curtindo as trocas com a plateia.
Liniker disse que Fortaleza foi a cidade onde mais gente pediu um show da turnê Indigo Borboleta Anil desde que o álbum que dá nome à tour foi lançado. Ela precisava, então, entregar uma apresentação à altura para aqueles que tanto quiseram estar ali. E foi isso que foi feito. Além das músicas desse disco, a artista cantou alguns de seus maiores sucessos, como “Calmô” e “Intimidade”. Nenhuma das canções mais queridas pelos fãs ficou de fora.
Os atrasos aconteceram, mas Liniker fez um show de quase duas horas, com direito a bis. A felicidade estava estampada nos rostos e perceptível na energia de todos os músicos no palco. Dava para sentir que eles queriam estar em Fortaleza naquela noite, diferente de muitos que passam pela cidade. Foi um espetáculo muito importante e cheio de simbologias. Não merecemos nada menos que isso.
Sofia Leite
Especial para a Rádio Universitária FM